A sessão bolsista de ontem foi tomada de assalto pela comunicação surpresa do Banco Central Europeu (BCE), ao início da tarde, em que Jean Claude Trichet anunciou alterações na forma como passará a conceder empréstimos aos bancos comerciais intervenientes no sistema interbancário da zona Euro. Basicamente, o BCE complicou a vida aos bancos. Na sequência da divulgação do comunicado, os mercados de acções afundaram, tendo os principais índices terminado a sessão com perdas superiores a 2%.
Desde o início da crise "subprime", que os principais bancos comerciais, em particular aqueles mais afectados pelo problema, têm recorrido às operações REPO e outros mecanismos semelhantes do BCE, no sentido de garantirem linhas de crédito. Dada a aversão ao risco que hoje se vive no sistema interbancário, os bancos comerciais deixaram de emprestar dinheiro entre si, por isso, o recurso ao banco central é a única alternativa.
Até aqui o BCE aceitava, como colateral, obrigações associadas a activos reais - os chamados Asset Backed Securities - em geral, ligados ao mercado imobiliário, cujo rating podia ir até cinco graus inferiores às Obrigações de Tesouro. Depois, emprestava até 98% do valor dos activos apresentados como colateral, um prémio de risco de 2% - na gíria financeira, também designado como "haircut". A consequência desta enorme permissividade foi que os bancos começaram a "empacotar" todo o lixo que possuíam nos respectivos balanços e a despachá-lo para o BCE, em troca de cash.
Entretanto, o BCE apercebeu-se da tramóia e decidiu alterar as regras do jogo. O "haircut" padrão será agora de 12%. E para aqueles activos realmente difíceis de avaliar, o lixo mais tóxico, aplicar-se-á um prémio de risco adicional de 4%, ou seja, 16% no total. Os bancos espanhóis e irlandeses, as economias mais dependentes do mercado imobiliário, serão os mais afectados por estas novas medidas. E, no imediato, os mercados de acções poderão também sofrer um pouco mais. A boa notícia é que, a prazo, a direcção preconizada pelo BCE, bem como os sinais que agora dá à banca europeia, permitirão restabelecer a solidez do sistema financeiro. E, em particular, salvaguardar a qualidade dos activos detidos pelos bancos no futuro.
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