2009-01-05

Corte na produção de crude

Nos últimos dias, as cotações do petróleo seguem uma tendência ascendente a par da divisa norte-americana. A tensão no Médio Oriente (as tropas israelitas entraram em Gaza para capturar as bases que os militante dos Hamas utilizaram para atirar mísseis), o maior produtor mundial da matéria-prima, ameaça a estabilidade dos fornecimentos. Neste momento, o crude avança mais de 1% para os 46,8 dólares por barril.

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No período de 1998-1999, a difícil situação na Rússia e o colapso do hedge fund Long-Term Capital Management LP provocaram muitos receios quanto ao impacto do abrandamento económico global na procura de petróleo nos mercados mundiais. No último trimestre de 1998, a cotação da matéria-prima resvalou 25%, naquela que foi a maior diminuição dos sete anos imediatamente anteriores (ver gráfico acima)

A recuperação nas cotações foi impulsionada pela OPEP, depois de ter cortado a produção de petróleo em 6,9%, levando a que os preços quase que duplicassem em 1999. Durante 2009, a Organização cortou a produção em 1,71 milhões de barris por dia, o que corresponde actualmente à actual produção da Líbia, o maior produtor norte-africano.


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Durante 2008, a situação foi ainda pior do que a de 1998. A cotação do crude perdeu mais de 100 dólares após o pico de 11 de Julho nos 147,27 dólares por barril (ver gráfico acima). As perdas e amortizações nas companhias financeiras mundiais atingiram centenas de milhar de milhões de dólares. O S&P500 desvalorizou 38%.

Na actual crise, a OPEP compromete-se a oferta em 9%, as empresas petrolíferas adiam novos projectos no sector energético e os bancos centrais baixam as taxas de juro de referência das suas zonas económicas para acabar com a pior crise financeira desde a Segunda Guerra Mundial.

A 21 de Dezembro, o Ministro saudita da OPEP revelou que a organização está disposta a estabilizar o preço da mercadoria. Por sua vez, o ministro King Abdullah avançou que 75 dólares por barril é um preço justo. Só este mês, King Abdullah já cortou a produção em 3,2% (o maior corte desde Abril de 2006). Para além disso, a OPEP vai reduzir os carregamentos da mercadoria em 1% nas quatro semanas terminadas a 17 de Janeiro.

Desta forma, são os vários os analistas, entre eles Christoph Eibl da Tiberius Asset Management, que acreditam numa viragem para a tendência de alta no crude durante 2009 (nomeadamente no segundo semestre). Vinte e oito dos trinta analistas consultados pela Bloomberg estimam que a cotação do crude no final de 2009 será mais elevada do que a actual, com uma mediana estimada de 70 dólares por barril no quarto trimestre deste ano.

Fonte: Bloomberg

2 comentários:

Anónimo disse...

Juliana,

Qual o peso da produção da OPEP na produção mundial de crude oil?

Qual a relação histórica entre o dólar e o preço do crude oil? Existe correlação ou não? E face à taxa de crescimento do PIB mundial?

Ricardo Arroja

Juliana Silva disse...

Ricardo,

A OPEP controla 40% da produção mundial de petróleo.

Nos últimos meses, a evolução do preço do crude tem sido uma das variáveis fundamentais na determinação do valor do dólar. A correlação é forte e, na formação dos dois preços, cada um deles tem sido determinante para o outro.

Durante 2008, a correlação entre o EUR-USD e os preços do crude atingiu os 0,966. Contudo, historicamente, num período de tempo mais alargado, essa correlação é muito baixa. Desde o início da década de 60 até agora, a correlação entre o crude e o dólar é de -0,1.

Também podemos encontrar alguma correlação entre a taxa de crescimento do PIB mundial e os preços do petróleo para os últimos anos. Por exemplo, entre 2003 e 2007 o aumento dos preços do petróleo reflectiu-se o crescimento económico global. Por sua vez, desde o ano passado que a recessão mundial está a atirar os preços da mercadoria para menos de metade da cotação em que transaccionava. Contudo, não disponho de dados para estes indicadores.

Juliana Silva