2008-08-11

Mão fria?


A vida é feita de ciclos. Há períodos melhores e piores, há os bons e os maus. Nos mercados, não é diferente. Há alturas em que o trader de serviço não falha uma. E há outras em que leva pancada de um lado e de outro. Estas situações acontecem com frequência, seja com traders que utilizam abordagens discricionárias (os "tape readers") ou com aqueles que se socorrem de modelos sistémicos (os "outros"). Portanto, a pergunta que se coloca é: "como lidar com estes períodos"? A minha experiência diz-me que existem três formas de tratar o assunto.


Primeiro, rever os inputs que conduziram às decisões de investimento perdedoras. "Love your losers like you love your winners. Maybe even more" ("The Day Trader's Course", Lewis Borsellino, Wiley Trading 2001) é um adágio que diz bem da necessidade de analisar o que se passa quando se perde dinheiro. Trata-se de um exercício mais fácil de fazer quando o quadro de decisão é metódico e menos dado a parâmetros subjectivos. Mesmo assim pode ser insuficiente, caso não se encontre padrão algum entre os trades perdedores. Nestas alturas, tem que se aceitar que todos os sistemas de análise também podem falhar. Há que continuar e seguir em frente. Porque existem vários tipos de trades: os ganhadores, os perdedores, os bons e os maus. Um trade perdedor não é necessariamente um mau trade. Tal como um trade ganhador não é, por si só, um bom trade.

Segundo, após ter revisto o sistema e não ter detectado qualquer falha grave, o trader persiste em trades perdedores. O que fazer? Voltar a rever os perdedores e reduzir a dimensão das transacções. O pior que pode suceder ao trader é perder a confiança necessária para persistir perante a adversidade. O trader que ganha medo ao mercado está morto. Nestas circunstâncias, o trader vai retrair-se e, garantidamente, é nestes momentos que a abordagem volta a ganhar - com o trader a ver navios e, agora, mais angustiado que nunca. Ou seja, na ausência de sinais vermelhos, o trader tem de continuar a transaccionar mas, porventura, com posições reduzidas. Se perder continuará em jogo sem deteriorar catastroficamente os seus níveis de confiança. Se ganhar, recuperará a convicção num instante. E será, novamente, "business as usual".

Terceiro, o trader continua a perder dinheiro e, agora, está em vias de perder a cabeça. Tem de sair do jogo imediatamente e descansar duas semanas. Como se determina este momento? É uma questão de números. O jogo acaba quando o trader atinge a perda limite que tinha definido "a priori" antes de ter começado a transaccionar. Daí que seja crucial definir um ponto de saída (10, 20 ou 30% do valor disponível para investimento) antes de avançar. E ter a disciplina para sair mesmo, se por acaso o limite for atingido. Vai de férias, bebe umas caipirinhas e esquece o mercado. Mais tarde, pode voltar, rever a sua abordagem e definir novo limite. O mercado estará lá sempre.

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