O "Washington Post" publicou ontem uma notícia extraordinária, segundo a qual, um grupo de sociedades financeiras deteriam, em conjunto, cerca de 80% do mercado de futuros sobre petróleo no NYMEX - o principal mercado de derivados de petróleo do mundo. Entre este grupo de especuladores institucionais, um deles, o "Vitol Group" - uma entidade suíça - surgia destacado como o mais proeminente, com cerca de 11% do Open Interest dos futuros sobre crude. O jornalista do Post defendia que a actuação deste grupo de traders, tal o impacto das suas posições, forçava a cotação do petróleo numa só direcção: para a alta, aparentemente. Entretanto, a notícia foi desmentida pela CFTC - o regulador do mercado de futuros nos Estados Unidos - e pelo próprio Vitol Group. E também o teor da notícia se encontra obsoleto já que, entretanto, o preço do petróleo caiu mais de 30 dólares desde o seu máximo, 147 dólares por barril, registado há cerca de um mês atrás.
A notícia fez-me lembrar o livro "Reminiscences of a stock operator", escrito por Edwin Lefevre, que relata as aventuras e desventuras do mítico Jesse Livermore, provavelmente, o maior especulador de sempre. Naquela época, a exiguidade do mercado permitia que grupos de traders se juntassem, concertassem e dominassem o comportamento de certos títulos. Ora não deixavam a cotação subir, ora não a deixavam cair. "Cornering the market", que na tradução portuguesa significa "encostar o mercado a um canto", era a expressão utilizada para ilustrar a acção conjunta e concertada destes especuladores.
Nos dias de hoje, a probabilidade de que grupos de traders consigam fazer algo semelhante é menor. Embora, em certos nichos como as "commodities", seja possível. De acordo com a notícia do Washington Post, a 6 de Junho, dia em que o preço do petróleo valorizou de forma intensa, a posição agregada do Vitol Group em futuros sobre petróleo seria longa - especulando na alta do mercado - e equivalente a 57 milhões de barris. Ou seja, uma posição longa de 57 mil contratos (cada contrato representa 1000 barris). Na sequência do artigo, o Vitol reagiu e refutou os números avançados. A informação disponibilizada pela empresa refere uma posição curta - especulando na baixa do mercado - e somente de 11 milhões de barris, ou seja, uma posição curta de 11 mil contratos.
Independentemente de quem tem os números correctos, a verdade é que qualquer uma das posições avançadas, 11 ou 57 mil contratos de futuros sobre petróleo, é suficiente para "encostar este mercado a um canto". Por exemplo, hoje (até às 12h20), ainda só foram transaccionados 26 mil contratos, no conjunto de todas as maturidades cotadas. Também é verdade que o volume de transacções só acelera a partir da hora de almoço, momento em que abrem os mercados norte-americanos, e que o volume médio de transacções diárias anda na casa dos 200 mil contratos. Contudo, mesmo neste universo, 11 ou 57 mil contratos correspondem a 5 a 25% de todo o mercado. É muito. Em particular, se a alegação acerca de uma eventual concertação for mesmo verdadeira.