Warren Buffett tornou-se o segundo homem mais rico do Mundo especulando com um horizonte temporal que chega a medir-se em décadas. Apesar do seu sucesso, o estilo de Buffett não recolhe admiração generalizada entre os especuladores. Os seus críticos não contestam que seja bom um homem ganhar dinheiro na Bolsa ao cabo de décadas. Eles afirmam, porém, que é melhor ainda um homem ganhar dinheiro na Bolsa ao cabo de um ano, de um mês e, no limite, de um dia. Esta lógica, aparentemente inatacável, conduz ao day-trading.
O day-trader é o especulador que tem como horizonte temporal o dia. Ele entra de manhã no mercado e fecha a posição à tarde, ganhando ou perdendo. Ele é o mais frenético de todos os especuladores, ambicionando ganhar dinheiro na Bolsa ao dia.
Se antecipa que o Nasdaq vai subir nesse dia, ele compra futuros do Nasdaq de manhã para os vender no final da sessão; pelo contrário, se pensa que o Nasdaq vai cair nesse dia, ele vende futuros de manhã para os recomprar à tarde.
As perspectivas são aliciantes. Possuindo o Nasdaq uma volatilidade média diária de 1,5%, e se ele acertar todos os dias, conseguirá ao final de um ano (cerca de 250 sessões de Bolsa) uma rentabilidade de quatro mil por cento. E basta alavancar-se em 100% do seu capital (ou investir num activo com uma volatilidade média dupla da do Nasdaq, como o crude) para que essa rentabilidade passe para cento e sessenta mil por cento, o suficiente para transformar um capital de 100 mil euros em mais de 160 milhões no curto espaço de um ano. Não é fácil encontrar caminho mais rápido para a fortuna.
A chave está em acertar todos os dias. Seduzidos por estas perspectivas, existem milhões de day-traders espalhados pelo Mundo, entre amadores e profissionais. Porém, na galeria dos grandes especuladores modernos, não figura um único pertencente a esta classe, sugerindo que o sucesso no day-trading é um objectivo sobre-humano.
A razão principal – embora não a única – para o insucesso do day-trading parece estar numa dissonância particular entre o especulador e o mercado – o facto de o especulador possuir memória e o mercado não a ter.
Dizer que o mercado não tem memória é apenas uma forma animista de exprimir um resultado estatístico importante – o de que as variações do mercado num dia são independentes das variações do mercado na véspera (ou na antevéspera ou em qualquer outro período anterior). Este resultado pode confirmar-se fazendo a regressão da variação de um índice bolsista sobre si próprio desfasado de um dia: o coeficiente de regressão não é estatisticamente diferente de zero.
Alternativamente, conduzindo uma análise probabilística em que se determina a probabilidade de o mercado subir ou cair num dia, sendo dado o que aconteceu na véspera (subida ou queda) ou numa sequência de dias anteriores; invariavelmente, essa probabilidade condicionada não é diferente de 50%. Por outras palavras, quer o mercado tenha subido ou descido ontem, ou qualquer que seja a combinação de subidas e descidas nos últimos dias, a probabilidade de o mercado subir amanhã é de 50% - e essa é também a probabilidade de ele cair. A performance do mercado amanhã é imune àquilo que aconteceu no passado, mesmo o passado mais recente. O mercado não tem memória.
Mas o day-trader tem, e é isso que lhe é quase sempre fatal. Se o mercado subiu ontem e hoje, a tendência do day-trader é para apostar na alta amanhã. Ele tem na memória dois dias de subida do mercado e a propensão da natureza humana é para projectar no futuro as tendências observadas no passado. Porém, o mercado não tem memória, e apesar de ter subido nos últimos dois dias, a probabilidade de subir amanhã é exactamente igual à de cair: 50%. O day-trader vai dar-se conta que, cada vez que aposte longo depois de dois dias de subida do mercado, acerta metade das vezes e perde noutra metade – a prazo, não ganha nada. Pode ser que ele decida mudar de estratégia e agora, cada vez que o mercado suba dois dias consecutivos, ele passe a apostar curto, e não longo. O resultado não será diferente, vai acertar em metade das vezes e falhar na outra metade – a prazo, não ganha nada.
O day-trader é o especulador que tem como horizonte temporal o dia. Ele entra de manhã no mercado e fecha a posição à tarde, ganhando ou perdendo. Ele é o mais frenético de todos os especuladores, ambicionando ganhar dinheiro na Bolsa ao dia.
Se antecipa que o Nasdaq vai subir nesse dia, ele compra futuros do Nasdaq de manhã para os vender no final da sessão; pelo contrário, se pensa que o Nasdaq vai cair nesse dia, ele vende futuros de manhã para os recomprar à tarde.
As perspectivas são aliciantes. Possuindo o Nasdaq uma volatilidade média diária de 1,5%, e se ele acertar todos os dias, conseguirá ao final de um ano (cerca de 250 sessões de Bolsa) uma rentabilidade de quatro mil por cento. E basta alavancar-se em 100% do seu capital (ou investir num activo com uma volatilidade média dupla da do Nasdaq, como o crude) para que essa rentabilidade passe para cento e sessenta mil por cento, o suficiente para transformar um capital de 100 mil euros em mais de 160 milhões no curto espaço de um ano. Não é fácil encontrar caminho mais rápido para a fortuna.
A chave está em acertar todos os dias. Seduzidos por estas perspectivas, existem milhões de day-traders espalhados pelo Mundo, entre amadores e profissionais. Porém, na galeria dos grandes especuladores modernos, não figura um único pertencente a esta classe, sugerindo que o sucesso no day-trading é um objectivo sobre-humano.
A razão principal – embora não a única – para o insucesso do day-trading parece estar numa dissonância particular entre o especulador e o mercado – o facto de o especulador possuir memória e o mercado não a ter.
Dizer que o mercado não tem memória é apenas uma forma animista de exprimir um resultado estatístico importante – o de que as variações do mercado num dia são independentes das variações do mercado na véspera (ou na antevéspera ou em qualquer outro período anterior). Este resultado pode confirmar-se fazendo a regressão da variação de um índice bolsista sobre si próprio desfasado de um dia: o coeficiente de regressão não é estatisticamente diferente de zero.
Alternativamente, conduzindo uma análise probabilística em que se determina a probabilidade de o mercado subir ou cair num dia, sendo dado o que aconteceu na véspera (subida ou queda) ou numa sequência de dias anteriores; invariavelmente, essa probabilidade condicionada não é diferente de 50%. Por outras palavras, quer o mercado tenha subido ou descido ontem, ou qualquer que seja a combinação de subidas e descidas nos últimos dias, a probabilidade de o mercado subir amanhã é de 50% - e essa é também a probabilidade de ele cair. A performance do mercado amanhã é imune àquilo que aconteceu no passado, mesmo o passado mais recente. O mercado não tem memória.
Mas o day-trader tem, e é isso que lhe é quase sempre fatal. Se o mercado subiu ontem e hoje, a tendência do day-trader é para apostar na alta amanhã. Ele tem na memória dois dias de subida do mercado e a propensão da natureza humana é para projectar no futuro as tendências observadas no passado. Porém, o mercado não tem memória, e apesar de ter subido nos últimos dois dias, a probabilidade de subir amanhã é exactamente igual à de cair: 50%. O day-trader vai dar-se conta que, cada vez que aposte longo depois de dois dias de subida do mercado, acerta metade das vezes e perde noutra metade – a prazo, não ganha nada. Pode ser que ele decida mudar de estratégia e agora, cada vez que o mercado suba dois dias consecutivos, ele passe a apostar curto, e não longo. O resultado não será diferente, vai acertar em metade das vezes e falhar na outra metade – a prazo, não ganha nada.
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O day-trader de sucesso precisa de alcançar um estado de espírito que é verdadeiramente desumano, que é o de esquecer a sua própria memória.
4 comentários:
Parabéns pelo artigo.Assim até parece fácil.
Recordo-me de ter lido um argumento identico, num contexto diferente, no fooled by randomness de nassim taleb...
PA.
Você é um gestor profissional.Como concilia esta doutrina, que explicou, e pelos vistos concorda,com o seu percurso profissional no dia a dia?
Mistake
No mais recente livro de divulgação do matemático Nuno Crato vem um artigozinho que ele escreveu num jornal, em que diz que está provado que o comportamento dos mercados bolsistas é aquilo a que em matemática se chama um fratal. Ou seja, qualquer que seja a dimensão temporal em que se analisa, verifica-se sempre as mesmas caraterísticas de volatilidade e impevisibilidade.
Vale a pena ler.
Luís Lavoura
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