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O day-trader é o especulador que tem como horizonte temporal o dia. Ele entra de manhã no mercado e fecha a posição à tarde, ganhando ou perdendo. Ele é o mais frenético de todos os especuladores, ambicionando ganhar dinheiro na Bolsa ao dia.
Se antecipa que o Nasdaq vai subir nesse dia, ele compra futuros do Nasdaq de manhã para os vender no final da sessão; pelo contrário, se pensa que o Nasdaq vai cair nesse dia, ele vende futuros de manhã para os recomprar à tarde.
As perspectivas são aliciantes. Possuindo o Nasdaq uma volatilidade média diária de 1,5%, e se ele acertar todos os dias, conseguirá ao final de um ano (cerca de 250 sessões de Bolsa) uma rentabilidade de quatro mil por cento. E basta alavancar-se em 100% do seu capital (ou investir num activo com uma volatilidade média dupla da do Nasdaq, como o crude) para que essa rentabilidade passe para cento e sessenta mil por cento, o suficiente para transformar um capital de 100 mil euros em mais de 160 milhões no curto espaço de um ano. Não é fácil encontrar caminho mais rápido para a fortuna.
A chave está em acertar todos os dias. Seduzidos por estas perspectivas, existem milhões de day-traders espalhados pelo Mundo, entre amadores e profissionais. Porém, na galeria dos grandes especuladores modernos, não figura um único pertencente a esta classe, sugerindo que o sucesso no day-trading é um objectivo sobre-humano.
A razão principal – embora não a única – para o insucesso do day-trading parece estar numa dissonância particular entre o especulador e o mercado – o facto de o especulador possuir memória e o mercado não a ter.
Dizer que o mercado não tem memória é apenas uma forma animista de exprimir um resultado estatístico importante – o de que as variações do mercado num dia são independentes das variações do mercado na véspera (ou na antevéspera ou em qualquer outro período anterior). Este resultado pode confirmar-se fazendo a regressão da variação de um índice bolsista sobre si próprio desfasado de um dia: o coeficiente de regressão não é estatisticamente diferente de zero.
Alternativamente, conduzindo uma análise probabilística em que se determina a probabilidade de o mercado subir ou cair num dia, sendo dado o que aconteceu na véspera (subida ou queda) ou numa sequência de dias anteriores; invariavelmente, essa probabilidade condicionada não é diferente de 50%. Por outras palavras, quer o mercado tenha subido ou descido ontem, ou qualquer que seja a combinação de subidas e descidas nos últimos dias, a probabilidade de o mercado subir amanhã é de 50% - e essa é também a probabilidade de ele cair. A performance do mercado amanhã é imune àquilo que aconteceu no passado, mesmo o passado mais recente. O mercado não tem memória.
Mas o day-trader tem, e é isso que lhe é quase sempre fatal. Se o mercado subiu ontem e hoje, a tendência do day-trader é para apostar na alta amanhã. Ele tem na memória dois dias de subida do mercado e a propensão da natureza humana é para projectar no futuro as tendências observadas no passado. Porém, o mercado não tem memória, e apesar de ter subido nos últimos dois dias, a probabilidade de subir amanhã é exactamente igual à de cair: 50%. O day-trader vai dar-se conta que, cada vez que aposte longo depois de dois dias de subida do mercado, acerta metade das vezes e perde noutra metade – a prazo, não ganha nada. Pode ser que ele decida mudar de estratégia e agora, cada vez que o mercado suba dois dias consecutivos, ele passe a apostar curto, e não longo. O resultado não será diferente, vai acertar em metade das vezes e falhar na outra metade – a prazo, não ganha nada.
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O day-trader de sucesso precisa de alcançar um estado de espírito que é verdadeiramente desumano, que é o de esquecer a sua própria memória.
4 comentários:
Parabéns pelo artigo.Assim até parece fácil.
Recordo-me de ter lido um argumento identico, num contexto diferente, no fooled by randomness de nassim taleb...
PA.
Você é um gestor profissional.Como concilia esta doutrina, que explicou, e pelos vistos concorda,com o seu percurso profissional no dia a dia?
Mistake
No mais recente livro de divulgação do matemático Nuno Crato vem um artigozinho que ele escreveu num jornal, em que diz que está provado que o comportamento dos mercados bolsistas é aquilo a que em matemática se chama um fratal. Ou seja, qualquer que seja a dimensão temporal em que se analisa, verifica-se sempre as mesmas caraterísticas de volatilidade e impevisibilidade.
Vale a pena ler.
Luís Lavoura
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